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Colapso nervoso

Termo é antigo, mas até hoje causa confusão entre especialistas e público leigo

Décadas atrás, a medicina moderna praticamente acabou com o colapso nervoso, atacando-o com uma combinação de novos diagnósticos, medicamentos psiquiátricos e uma forte dose de desdém profissional.
O nome foi excessivamente usado e tornou-se quase sem sentido, um termo egoísta de uma era que relutava em falar abertamente sobre angústias mentais. Porém, como um vírus teimoso, o termo sofreu uma mutação.

Nos últimos anos, psiquiatras da Europa diagnosticaram o que chamam de “Síndrome da Combustão”, cujos indicadores incluem “exaustão vital”. Um artigo publicado no ano passado definiu três tipos do problema: “frenético”, “subdesafiado” e “consumido”.

Esse é o mais novo termo genérico para os tipos de colapsos emocionais que atormentam a humanidade há várias décadas, incluindo graves dificuldades mentais e, com maior frequência, algumas mais leves. Existiram muitos outros termos. Nas primeiras décadas do século XX, muitas pessoas simplesmente diziam esgotamento nervoso. E antes disso houve a neurastenia, um problema nos nervos amplamente diagnosticado e indefinido que causava praticamente qualquer sintoma que as pessoas quisessem adicionar.

Ainda assim, historiadores médicos dizem que, em relação a versatilidade e poder descritivo, pode ser difícil aprimorar o termo “colapso nervoso”. Cunhado por volta de 1900, o nome atingiu seu apogeu de uso durante meados do século XX, e ecoa até hoje. Um recente estudo descobriu que 26% dos entrevistados numa pesquisa nacional dos Estados Unidos em 1996 relataram ter experimentado um “colapso nervoso iminente”, frente a 19% da mesma pesquisa em 1957.

Humilhante
Nunca um diagnóstico psiquiátrico adequado, o termo sempre foi considerado pela maioria dos médicos como inexato, pseudocientífico e frequentemente equivocado. Porém, essas foram exatamente as qualidades que lhe conferiram um lugar duradouro na cultura popular, segundo alguns acadêmicos. “Ele possui ratificação médica suficiente para ser usado”, disse Peter N. Stearns, historiador da Universidade George Mason, perto de Washington.

Um colapso nervoso não era pouca coisa nas décadas de 50 ou 60, ao menos no momento em que a pessoa chegava a um consultório médico. Psiquiatras de hoje dizem que, na maioria das vezes, o termo era um código para um episódio de depressão profunda – ou psicose, os delírios que geralmente indicam esquizofrenia.

“Não me lembro de pessoas que receberam esse rótulo usando-o como uma reclamação própria – isso era bastante estigmatizado”, disse Nada L. Stotland, ex-presidente da Associação Psiquiátrica Americana e professora do Rush Medical College em Chicago, que começou a praticar na década de 1960. “Sendo ‘exaustão nervosa’ ou ‘colapso nervoso’, qualquer coisa que soasse psiquiátrica era estigmatizada naquela época. Era vergonhoso, humilhante”.

Uso “customizado”
A imprecisão do termo tornava impossível pesquisar a prevalência de qualquer problema mental específico; ele podia significar qualquer coisa, de depressão e loucura a embriaguez; poderia ser a causa de um divórcio difícil ou o resultado de uma separação. E a análise desses detalhes deixava as pessoas que sofriam do que hoje são problemas bastante conhecidos, como depressão pós-parto, totalmente no escuro, imaginando se estariam sozinhas em seu sofrimento.

Contudo, essa mesma imprecisão permitia que o orador, e não os profissionais da medicina, controlasse seu significado. As pessoas poderiam estar à beira, ou próximas, de um colapso nervoso; e era bastante comum que se tivesse “algo como” um colapso nervoso, ou um colapso leve. O termo permitia que uma pessoa revelasse a quantidade de detalhes que ela entendesse a respeito de um “esgotamento nervoso”. Imprecisão preserva a privacidade.

Ao longo do tempo, cada geração atribuiu seus próprios diagnósticos genéricos a mudanças culturais maiores. Industrialização. Modernização. A era digital. O filósofo do século XIX William James supostamente chamou a neurastenia, que ele próprio dizia ter, de “Americanite”, parcialmente o resultado do ritmo acelerado da vida norte-americana. E o mesmo acontecia com os colapsos. As causas eram principalmente externas – e a recuperação, uma questão de administrar melhor as exigências da vida.

“Muitas vezes, as pessoas aceitavam a noção de colapso nervoso por ela ser entendida como uma categoria que poderia ser tratada com ajuda profissional”, concluiu uma análise de 2000 por Stearns, Megan Barke e Rebecca Fribush. A popularidade do termo, segundo eles, revelava “uma antiga necessidade de manter distância de diagnósticos e tratamentos puramente profissionais”.

Muitos faziam exatamente isso, e voltavam a seus empregos e família. Outros não. Eles precisavam de um diagnóstico mais específico, além de tratamento direcionado. Na década de 1970, mais medicamentos psiquiátricos estavam disponíveis, e os médicos atacavam diretamente a ideia de que as pessoas poderiam administrar colapsos eficientemente por conta própria.

Psiquiatras dividiam problemas como depressão e ansiedade em dúzias de categorias, e as percepções públicas também se alteraram. Em 1976, 26% das pessoas admitiam buscar ajuda profissional, subindo de 14% em 1947, de acordo com a análise de Stearn. E o termo “colapso nervoso” começou a ser menos usado.

O mesmo destino pode ou não aguardar a “síndrome da combustão”, que por enquanto tem o apoio de alguns médicos e pesquisadores. Esse termo, porém, tem outros 30 anos para durar mais que o clássico “colapso”.

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